ESPUMAS FLUCTUANTES
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Os olhos levantavam p'ra o céo torvo,
Vasto sudario do universo — espectro
E após em terra se atirando em raivas,
Rangendo os dentes, blasphemos, uivavam!

Lugubre grito os passaros selvagens
Soltavam, revoando espavoridos
N'um vôo tonto co'as inuteis azas!
As féras 'stavam mansas e medrosas!
As viboras rojando s'enroscavam
Pelos membros dos homens, sibilantes,
Mas sem veneno... a fome lhes matavam!
E a guerra, que um momento s′extinguira
De novo se fartava. Só com sangue
Comprava-se o alimento, e após á parte
Cada um se sentava taciturno,
P'ra fartar-se nas trévas infinitas!
Já não havia amor!... O mundo inteiro
Era um só pensamento, e o pensamento
Era a morte sem gloria e sem detença!
O estertor da fome apascentava-se
Nas entranhas... Ossada ou carne putrida,
Resupino, insepulto era o cadaver.

Mordiam-se entre si os moribundos:
Mesmo os cães se atiravam sobre os donos,
Todos, excepto um só... que defendia
O cadaver do seu, contra os ataques