ESPUMAS FLUCTUANTES
295


Que ventura! Fitar-te os negros olhos
Desmaiados de amor e de quebranto...
E recliníida a fronte no teu seio,
Sentir languido arfar em doce enleio...

Mas que louco sonhar!... 0′minha amante,
Que nunca nos meus braços desmaiaste,
Que nem sequer de amor uma palavra
Dos meus lábios em fogo inda escutaste,.
Perdoa este sonhar vertiginoso!
Foi um sonho do peito deliroso!

E se um dia, entre as scismas de tu′alma,
Minha imagem passar um só momento,
Fita meus olhos, vê como elles falam
Do amor que eu te votei no esquecimento.
Recorda-te do moço que em segredo
Fèz-te a fada gentil de um sonho ledo...

Recorda-te do pobre que em silencio

De ti fez o seu anjo de poesia;

Que tresnoitou, scismando em tuas graças,

Que por ti, só por ti é que vivia,

Que tremia ao roçar de teu vestido,

E que por ti de amor era perdido...

Sagra ao menos uma hora em tua vida
Ao pobre que sagrou- te a vida inteira,