O VÔO DO GENIO


A′ ACTRIZ EUGENIA CAMARA


Um dia, em que na terra a sós vagava
Pela estrada sombria da existencia,
Sem rosas — nos vergeis da adolescencia,
Sem luz d′estrella — pelo céo d′amor;
Senti as azas de um archanjo errante
Roçar-me brandamente pela fronte,
Como o cysne, que adeja sobre a fonte,
A′s vezes toca a solitaria flor.

E disse então: — Quem és, pallido archanjo!
Tu, que o poeta vens erguer do pégo?
Eras acaso tu, que Milton cego
Ouvia em sua noite erma de sol?