125


Deito-me emfim. Ponho o chapéu num gancho.
Cinco lençóes balançam numa corda,
Mas aquillo mortalhas me recorda,
E o amontoamento dos lençòes desmancho.

Vêm-me á imaginação sonhos dementes.
Acho-me, por exemplo, numa festa.
Tomba uma torre sobre a minha testa,
Caem-me de uma só vez todos os dentes!

Então dois ossos roidos me assombraram.
— «Por ventura haverá quem queira roer-nos?!
Os vermes já não querem mais comer-nos
E os formigueiros já nos desprezaram».

Figuras espectraes de boccas tronchas
Tornam-me o pesadelo duradouro.
Chóro e quero beber a agua do chôro
Com as mãos dispostas á feição de conchas.

Tal uma planta aquatica submersa,
Ante-gozando as ultimas delicias
Mergulho as mãos — vis raizes adventicias —
No algodão quente de um tapete persa.

Por muito tempo rólo no tapete.
Subito me ergo. A lua é morta. Um frio
Cahe sobre o meu estomago vasio
Como se fosse um cópo de sorvete!

A alta frialdade me insensibilisa;
O suor me ensopa. Meu tormento é infindo...
Minha familia ainda està dormindo
E eu não posso pedir outra camisa!