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Nessa hora de monólogos sublimes,
A companhia dos ladrões da noite,
Buscando uma taverna que os acoite,
Vae pela escuridão pensando crimes.

Perpetravam-se os actos mais funestos,
E o luar, da côr de um doente de ictericia,
Illuminava, a rir, sem pudicicia,
A camisa vermelha dos incestos.

Ninguem, de certo, estava ali, a espiar-me,
Mas um lampeão, lembrava ante o meu rosto,
Um suggestionador olho, ali posto
De proposito, para hypnotisar-me!

Em tudo, então, meus olhos distinguiram
Da miniatura singular de uma aspa,
A’ anatomia minima da caspa,
Embryões de mundos que não progrediram!

Pois quem não vê ahi, em qualquer rua,
Com a fina nitidez de um claro jorro,
Na paciencia budhista do cachorro
A alma embryonaria que não continúa?!

Ser cachorro! Ganir incomprehendidos
Verbos! Querer dizer-nos que não finge,
E a palavra embrulhar-se no larynge,
Escapando-se apenas em latidos!

Despir a putrescivel fórma tosca,
Na atra dissolução que tudo invérte,
Deixar cahir sobre a barriga inerte
O appetite necróphago da mosca!