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Porque o amor, tal como eu o estou amando,
É espirito, é ether, é substancia fluida,
É assim como o ar que a gente péga e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!

É a transubstanciação de instinctos rudes,
Imponderabilissima e impalpavel
Que anda acima da carne miseravel
Como anda a garça acima dos açudes!

Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, attenta a orelha cauta,
Como Marsyas — o inventor da flauta —
Vou inventar tambem outro instrumento!

Mas de tal arte e especie tal fazêl-o
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as linguas declinal-o
Possam todos os homens comprehendel-o!

Para que, emfim, chegando á ultima calma
Meu pôdre coração rôto não role,
Integralmente desfibrado e molle,
Como um sacco vasio dentro d’alma!

 

Pau d’Arco — Agosto — 1907.