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Quarto féretro

GUILHERME

o que importa a Vida e o que importa a Morte, obscuro velhinho que te foste, operário humilde da terra, que levantaste as torres das egrejas e os tectos das casas, que fundastes os alicerces d′ellas sobre pedra e areia como os teus únicos Sonhos.

Deixa symphonicamente cantar sobre ti a sacrosanta alegria branca e forte do profundo Reconhecimento que te votei na existência! Deixa correr sobre o teu virtuoso flanco de lutador, sobre as tuas mãos rudes e abençoadas, sobre os teus olhos hypocondriacos de senil desterrado de Reinos ignotos, sobre o teu coração suave de cordeiro immaculado, as grandes e maravilhosas lagrimas repurificantes que nesta hora sublimisam o meu ser de uma divinisação incomparável! Velho tronco robusto de onde seivas prodigiosas de Affeição porejaram sempre! A tua alma, blindada de uma honra ingénua, antiga e clássica, parecia-se reveladoramente com a natureza — alma franca e virgem, expontânea nos seus phenomenos, puro bloco inteiriço de Sentimento, de onde os cinzelarios do Sonho cincelariam com a sua esthetica soberana as ereações immortaes.