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verde á bocca — inveja verde, nauseabundo reptil verde enroscando-se-lhe nas carnes, medonho reptil verde sahindo-lhe dos olhos, asqueroso reptil verde sahindo-lhe das narinas, todo o seu miserável corpo invadido por hediondos reptis verdes.
E como se essa suggestão doentia e diabólica da inveja lhe tomasse logo todo o cérebro e pasmosamente lhe gerasse absurdas visões na retina, jungido a mais perseguidora e atroz obsessão, o idiota, como um monstruoso reptil verde, sentiu-se subdividido, multiplicado infinitamente em milhões e biliões de reptis verdes de todos os aspectos e formas, longos, lentos, elásticos, subindo pelos altares, descendo pelos paramentos, viscando as vestes dos Santos, se arrastando pelas azas, pelos frizos das columnatas, pelo arco cruzeiro, tatuando de verde a prata das lâmpadas e subindo, sempre triumphaes, avassalladoras, suffocantes, n′uma peste verde, n′uma allucinação verde, até ao altar-m(5r, sobre o cibório de ouro, sobre o cálix de ouro, sobre a cruz do Christo de ouro, esmeraldeando maravilhosamente com bizarrismos bysantinos de formas as requintadas cinzel uras ref ingentes, de niveas claridades puras e brumosas de via-lactea, da velada e sumptuosa Capella de reverencias, taberna- culâi, do Santissimo Sacramento.