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ella saber de mim? O que quereria nesse extremo momento? O que buscava? A minh′alma, o meu peccado, o meu crime em viver ainda e abandonal-a no Além, só e fria, enterrada tantos torvos palmos, tão profundamente enterrada na terra lutulenta e enregelada? O que buscava ella? O que procurava em mim assim surgindo, andando somnambula, vagando sem rumo e rumor como sobre onda, nuvem, espuma?

Mas porque me apparecia ella agora? Seria para exprobar-me o passado? Seria, por acaso, porque não pude envolver na vida em mais delicados cuidados e recônditas caricias as suas longas dores angustiadas?! Ah! porém ella agora está morta, ella agora está morta! Se estivesse viva sentiria então que devotamentos, que con. sagrações, que inabaláveis, que terríveis dedicações a cercariam, deííendendo-a, como couraças e lanças gloriosas de um soberbo e insólito heroismo; como eu a estremeceria de um amor infinito, como eu lhe votaria affectos supremos, entranhados, profundos!

Que segredos tremendos me vinha agora trazer essa Sombra viva, que eu sentia, que eu via, olhando-me muito, em silencio!, mergulhando os seus olhos cavados nos meus olhos, estendendo — ah! horrível! — os braços longos,