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teu perdão, o teu perdão, porque eu não poderia mais receber os teus abraços, os teus beijos, o teu olhar de sepulchro, teria de repellir-te e — 6! desespero dos Esquecimentos eternos! — de repudiar até a tua Sombra, tão grande e tão fundo seria em mim o terror de sentir-te perto!

Não que eu desdenhasse da tua Entidade amargurada, afflictiva, tristissima, dolorosissima; da tua bondade suprema, compassiva e commovente; não que eu crivasse de′ pungentes ironias a tua obscura alma presa, arrastada pelos ergástulos das lagrimas, abalada tragicamente por soluços...

Mas tu me apparecerias tão mudada, tão transfigurada por fluidos, trazendo tão prodigiosos efliuvios de outros jnundos, tantos raios d′outrás esphéras, tantas phantasticas expressões e singularidades absolutas da treva de atros, tetros bárathros, que eu, frágil, que eu, matéria humana, que eu, tecido ténue de nervos, me atterrorisaria e succumbiria de pasmo...

No entanto experimento ainda uma exquisita sensação de dor de lembrança, de saudade, se te evoco, se recordo os bens assignalados que me fizeste, a Creatura ideal que foste, tão meiga de bondade, que toda a caricia da terra é hoje para mim desprezivel e vã diante do mar soberano da tua espiritual Affeição.