I CAPITULO

...Gorgoris dizia
Que vos venera sá por nome e fama
Que ouvindo amôr nos animos se cria,
Como por alhos, por cuvidos ee ama.
Ulysséa, Pereira de Castro.

— Eu sou a virgem pantheista, a sacerdotisa do sol — dizia Ladice à sua prima Dinah. — Todas as manhãs, recebo em a boca essa hostia de flammas...

De braços extendidos deixava cair sobre a tez branca e rosea essa luz gloriosa, que a enfeixava em linguas de ouro.

— Vês,— e mostrava-lhe a palma da mão — aqui tenho a vertigem do azul, das alturas, da immensidade. — E os seus olhos se detinham em o arvoredo incendiado, luzidio, impregnado de silencios lascivos.

— Ah! Dinah, ter dezoito annos, este cêo, esta natureza sempre verde, e um coraçãozinho que ora guarda as sombras, a melancolia dos cyprestes, ora é como um iris aberto, gritando ao sol: — mais, ainda mais! Que me será a vida? Que destino terei? — Depois de uma pausa — Com certeza, a minha vontade não prevalecerá, apesar da intelligencia, e das ousadias que trago... Oh! a revolta contra o rigor dos que me governam... Obedecer, obedecer eternamente...