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bem reparava, e com certo orgulho, que apesar de todos esses ditos mordentes, elles, pobres infelizes, permaneciam seus escravos, suggestionados, acorrentados á sua belleza, ás suas proprias fraquezas.

Ella ouvira bem nitidamente João dizer que a virtude era fragil, porque era feminina, assim como a resposta de Theophlio, “que a fealdade e a estupidez dão força á fraca virtude.” E em o fundo de seu coração, Ladice sentia essa verdade e via-lhe a tenuidade, a tibieza, a inviabilidade quando ella perde os seus maiores apoios, os seus mais fortes adjuntos: o amor, a fé. Continuando a pensar, apanhava machinalmente um a um os jasmins.

— Dir-se-ia Euphrosyna, a mais bella das Graças, a colher rosas, myrthos, tulipas para a cintura esbelta de Venus.

Ladice voltou-se rapidamente e deu com Theophilo ao seu lado:

— E´ uma mulher do seculo XX que tem para com as flores, as plantas, a natureza inteira, o culto pagão, afervorado, excessivo, que Zoroastro nutria para com o sol... — E extendeu-lhe a palma da mão onde estavam tesos ainda frios e immaculados tres jasmins.

O Poeta curvou-se para melhor vel-os. A sua attenção, porém, se fixava em a fórma espiritualizada, nervosa de sua mão, em a ponta rosea dos dedos que pareciam brincar com flammas e em a brancura maravilhosa da pelle... Elle os tomou e os levou aos labios, ás narinas, e emquanto os fitava, dizia a meia voz:

— “Jasmin, flôr dos temperamentos abrasados

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