— 335 —

sempre lhe testemunhára. “Elle ainda saberá da felicidade perfeita, — raciocinava Ladice. — A sua natureza placida lhe poupará soffrimentos duradoiros... Casar-se-á com uma mulher da sua feição, igual a elle, — concluiu a Senhora de Assis, resignada.”

O resto da tarde, ella quasi não falou. Passeava de um lado para o outro agitada de heroismos e estridencias de sacrificio. Dir-se-ia que esperava pela espada de um Archanjo que a rasgasse de ponta a ponta para lhe arrancar a substancia una; o verbo, a febre de sua essencia; a mola, o eixo de suas irradiações. Tinha o sabor do sangue, da volupia, da tragedia, a alegria prodigiosa violando em si propria o senso, as volições, as potencias. Sentia a vertigem do milagre que se approximava.

“Qualquer cousa d´elle morrerá commigo — observava ella.”

“Parece-me que todas as estrellas baixam do céo para me pregar ao Poeta bem amado... — Depois de uma pausa. — Ah! meu Deus, tenho o desejo da nuvem! — Que ancia de velocidade, de rapidez, de azul...”


***

A´s 9 horas Ladice disse a Francisco — Vou escrever para Europa, não me interrompas; assim que acabar irei dormir... — E ella o beijou e abraçou-o. A Senhora de Assis entrou para a sala de estudo, fechando a porta, á chave, e tomando da penna, endereçou a Theophilo a seguinte carta:

A. B.—23