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séries monotonas e de sequencias identicas — redarguiu Ladice.

— Que importa! Via-lhe os olhos, e sorria; beijava-lhe a bôca, e perdia-me... Que queria eu mais? — interrogou Ruth, hilariante.

— Como és feliz, vivendo assim, na superficie, nos sentidos...— E os olhos de Ladice se retouçavam, através da janella aberta, em o negror da noite.

— O que garante a superioridade de um homem é o seu caracter, a sua nobreza de sentimentos — sentenciou Dinah.

— Elles são tão dissimulados, que, de ordinario, não sabemos quando dizem sim — explicou Ruth.

— Quando converso com elles, parece-me sempre possuir nas mãos a sua consciencia. Tenho uma percepção mui rapida; sei logo quando mentem... — accrescentou Ladice.

— Mentem de continuo. Nunca se esquecem de mentir... E´-me um “sport” adoravel seguir-lhes, circumspecta, a mesma traça — retorquiu Ruth.

— Quando percebo que a mentira é ascendente, é grande estylo, é uma provocação para o alto, affirmo-a e goso então muito, oh! muito!...

— Vocês são de um mundanismo desolante... Sentir o prazer da mentira!... E´ incrivel, Ladice — verberou Dinah.

— Mentir é fazer-se romance, é criar-se uma atmospherazinha toda sua; é um dualismo que não deixa de ser interessante; é uma manifestação de intelligencia.