— Horriveis bichos! disse ela. Vê-se logo que não são os filhos da coruja.
E comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar á tóca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.
— Que? disse esta, admirada. Eram teus filhos aqueles mostrenguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...
— Para mim, vóvó, comentou Narizinho, esta é a rainha das
fabulas. Nada mais verdadeiro. Para os pais os filhos são sempre uma beleza, nem que sejam feios como os filhos da coruja.
— E essa fabula se aplica a muita coisa, minha filha. Aplica-se a tudo que é produto nosso. Os escritores acham otimas todas as coisas que escrevem, por peores que sejam. Quando um pintor pinta um quadro, para ele o quadro é sempre bonitinho. Tudo quanto nós fazemos é “filho de coruja”.
— Mostrengo ou monstrengo, vóvó? quis saber Pedrinho. Vejo essa palavra escrita de dois jeitos.
— Os gramaticos querem que seja mostrengo — coisa de mostrar; mas o povo acha melhor monstrengo — coisa monstruosa, e vai mudando. Por mais que os gramaticos insistam na forma “mostrengo”, o povo diz “monstrengo”.
— E quem vai ganhar essa corrida, vóvó?
— Está claro que o povo, meu filho. Os gramaticos acabarão se cansando de insistir no “mostrengo” e se resignarão ao “monstrengo”.
— Pois eu vou adotar o “monstrengo”, resolveu Pedrinho. Acho mais expressivo.
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