Recordou todos os seus truques classicos. Enumerou-os. Chegou a contar noventa. E chegaria a contar cem, se o rumor duma acuação não viesse interromper-lhe calculos.
— Está aí a cachorrada! disse o gato, subindo por uma arvore acima. Aplica lá os teus inumeraveis recursos, que o meu recurso unico já está aplicado.
A raposa, perseguida de perto, disparou como um foguete pelos campos, pondo em pratica, um por um, todos os recursos de sua coleção.
Foi tudo inutil. Os cães eram mestres; não lhe deram treguas, inutilizaram-lhe as mais engenhosas manhas e acabaram pegando-a.
Só então se convenceu — muito tarde!... — de que é preferivel saber bem uma coisa só do que saber mal-e-mal noventa coisas diversas.
— Eu, se fosse a senhora, vóvó, trocava essa fabula por aquela outra — a tal do Pulo do Gato. O gato ensinou á onça todos os pulos menos um — o pulo de lado. E quando acabou a lição, a onça, zás! pulou em cima do gato para come-lo. Mas o gato fugiu com o corpo — deu um pulo de lado. Muito desapontada, a onça disse: “Mas esse pulo você não ensinou”. E o gato, de longe: “E não ensino, porque esse é o pulo do gato”.