— E’ verdade, vamos ser vendidos os tres. Mas tu, cabra, teu destino é dar leite; e tu, carneiro, tua função é produzir lã. Compreendo que seja indiferente para ambos que deis leite ou lã a este ou áquele. Mas eu? — eu só presto para ser comido, e ir para o mercado não me é apenas mudar de dono mas mudar de mundo. Vou para o açougue — coin, coin! Como então quereis que me conforme com a sorte e vá nesse sossego de cabra e nessa indiferença de carneiro? Tivesseis o meu destino e havieis de berrar ainda mais forte...

E continuou a botar a boca no mundo.


— Quem o manda ser carne? comentou Emilia. Cabra é leite. Carneiro é lã.

— Cabra e carneiro tambem são carne, disse Narizinho.

— Em segundo lugar! Em primeiro lugar são leite e lã; só depois é que são carne. Mas o pobre do porco é só carne, carne e mais carne. E’ lombo, é linguiça, é presunto, é chouriço, é pernil, é costeleta, é entrecosto, é tripa. O porco é carnissimo. Quando sái do chiqueiro, já sabe que não é para dar leite, como a cabra, nem dar lã, como o carneiro. E porisso berra e faz muito bem. Eu berrava o dobro...

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