A comadre Teresa beijou dois dedos em cruz; mas logo que a Fidencia se foi, sentiu na lingua uma tal comichão que contou a historia dos tres ovos á tia Felizarda.
Tia Felizarda tambem jurou segredo, mas contou a historia dos quatro ovos á prima Joaquina.
Prima Joaquina tambem jurou segredo, mas contou a historia dos cinco ovos á sua amiga Ignês.
A Ignês...
E o caso foi que ao meio-dia a cidade inteira só comentava uma coisa — o estranho fenomeno do Zé Galinha, misterioso homem que punha cada noite doze duzias de OVOS...
— Isso de contar um conto e aumentar um ponto é ali com a senhora Emilia, observou a menina.
— Um ponto só? Ah, ah! A Emilia vai logo aumentando dez... caçoou Pedrinho.
O visconde explicou que ha para isso uma razão psi-co-lo-gi-ca.
— E’ para melhor acentuar o fato, disse ele. Contar uma coisa é passar essa coisa duma cabeça para outra. E como nessas passagens ha sempre perda (como na corrente eletrica que vai de um ponto a outro), o contador exagera. Exagera sem querer, por instinto.
— Eu não exagero, disse Emilia. Apenas enfeito.
— Pois então exagera, porque enfeitar é exagerar, explicou o visconde. E voltando-se para Emilia: “Pode botar a lingua...”