O urso chegou, bamboleando o corpo. Dá com o “cadaver”, fareja-o nos olhos, no nariz, nos ouvidos e exclama:

— Carniça! Isto é coisa que só aos urubús pode interessar. E retirou-se, bamboleante.

Assim que o urso desapareceu ao longe, os caçadores, até então imoveis, respiraram e criaram alma nova. E, muito satisfeitos de se verem livres das unhas da “pele” vendida, foram correndo para casa. Lá chegados, riram-se da aventura; e o que trepara á arvore perguntou ao que se fingira de morto:

— Que é que te disse o urso ao ouvido, compadre?

— Disse-me que não se deve contar com o ovo antes da galinha o botar!...


Ouvindo falar em ovo, tia Nastacia veio lá da cosinha saber que historia de ovo era aquela. Ovo é uma coisa que bole no coração das cosinheiras. Dona Benta teve de repetir o caso da pele do urso.

A pobre preta não entendeu nada. Só gostou daquele ovo ali no fim, mas não achou nenhuma relação entre a pele do urso e o ovo de galinha.

— Será que esse caçador pensa que urso bota ovo? disse ela tolamente.

Todos riram-se.

— A cara de tia Nastacia está me sugerindo uma fabula que esqueci de contar, disse dona Benta — a do Galo e a Perola. Um galo estava ciscando no terreiro. De repente encontrou uma perola. “Que pena!” exclamou. “Antes fosse um grão de milho”.

A boa negra ainda ficou mais atrapalhada. Urso, ovo de galinha, perola, grão de milho... Que embrulhada era aquela? E voltou para a cosinha resmungando:

— Até sinhá está ficando que a gente não entende. Crédo...

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