A pombinha foi conferenciar com os chefes, e com tanta eloquencia falou que eles a ouviram e assinaram um tratado, comprometendo-se a nunca mais se devorarem uns aos outros.
Mas o que depois disso sucedeu degenerou em calamidade para os apaziguadores. Harmonizados entre si, os rapinantes pouparam-se uns aos outros, mas deram de empregar toda a força dos bicos e todo o fio das unhas contra as pobres pombas. E foi uma chacina sem treguas que dura até hoje e durará eternamente.
E as pombinhas entraram a murmurar, num queixume triste:
— Que tolice a nossa, de restabelecer a harmonia entre os rapinantes! A boa politica mandava fazer justamente o contrario — dividi-los ainda mais...
— Houve mesmo essa guerra, dona Benta? perguntou tia Nastacia, que vinha entrando com um prato de pés-de-moleque ainda quentinhos. Judiação, as malvadas matarem as pombinhas...
Emilia pôs as mãos na cintura.
— Que graça, esta assassina achar judiação aguia matar pombas! Quem é que hontem torceu o pescoço do frango carijó? Quem é que a semana passada matou aquele leitãozinho? Quem é que...
— Pare, Emilia! disse dona Benta. Você está se afastando muito da fabula. Quero saber qual é a moralidade do caso das aves de rapina e as pombas.
Pedrinho gritou:
— Eu sei, vóvó! Dividir é enfraquecer — não é isso mesmo?
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