— Depende da ideia que a gente faz da morte, minha filha. Quem a considera um Mr. Ceifas, ah, esse prefere a amavel visita de Mr. Ceifas ao tal penar.

— E que é penar?

— E’ sofrer dor prolongada, é sofrer um castigo, uma pena.

— Mas como é que pena é ao mesmo tempo dor e aquilo das aves? Isso atrapalha a gente. Emilia, quando ainda era uma coitadinha que estava decorando as palavras, uma vez confundiu as duas penas — a pena dor e a pena pena, e veio da cozinha dizendo: “Tia Nastacia está contando para o visconde que para pena de costas o melhor remedio é passar iodo com uma dor de galinha”. Ela havia trocado as bolas...

— São coisas do latim, minha filha. Nessa lingua havia duas palavras parecidas: poena e penna. A primeira virou em nossa lingua “pena” — pena-dor; e a segunda ficou penna mesmo — a tal das aves.

— E depois a penna das aves perdeu uma peninha e virou pena com um n só, igual á pena-dor, concluiu Emilia, e agora está aí, está aí, está aí...

— Está aí o que, Emilia?

— Está aí um grande embrulho...



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