Unha-de-Fome
Depois duma vida de miserias e privações Unha-de-Fome conseguiu amontoar um tesouro, que enterrou longe de casa, num lugar ermo, colocando uma grande pedra em cima. Mas tal era o seu amor pelo dinheiro, que volta e meia rondava a pedra, e namorava-a como o jacaré namora os seus proprios ovos ocultos na areia. Isto atraiu a atenção dum vizinho, que o espionou e por fim lhe roubou o tesouro.
Quando Unha-de-Fome deu pelo saque, rolou por terra desesperado, arrepelando os cabelos.
— Meu tesouro! Minha alma! Roubaram minha alma!
Um viajante que passava foi atraido pelos berros.
— Que é isso, homem?
— Meu tesouro! Roubaram o meu tesouro!
— Mas morando lá longe você o guardava aqui, então? Que tolice! Se o conservasse em casa não seria mais comodo para gastar dele quando fosse preciso?
— Gastar do meu tesouro?! Então você supõe que eu teria a coragem de gastar uma moedinha só, das menores que fosse?
— Pois se era assim, o tesouro não tinha para você a menor utilidade, e tanto faz que esteja com quem o roubou como enterrado aqui. Vamos! Ponha no buraco vazio uma pedra, que dá no mesmo. Que utilidade tem o dinheiro para quem só o guarda e não gasta?
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