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Por escutar-me a voz, por vêr-me a face;
De tu'alma ao clamor possante acudo
E eis-me aqui! Que miseravel mêdo
De ti, mais que homem, se apodera? Onde
Está da alma o grito, aonde o peito
Que em si pôde crear, suster um mundo,
Que intumeceu, tremendo de alegria,
Té elevar-se á altura dos espiritos ?
Onde estás, Fausto, a quem ouvi os brados
E aspiraste a mim co'as forças todas?
És tu que de meu halito cercado,
Qual encolhido verme, temeroso,
De teu ser até o intimo estremeces?

 
FAUSTO

Hei-de ceder-te a ti, vulto de chammas?
Sou eu, sou Fausto, teu egual me julgo.

 
ESPIRITO

No mar da vida, no volver dos factos,
Abaixo, acima boio,
Aqui e alli vagueio!
A morte, o nascer,
Um pelago eterno,
Tecido cambiante,
Brilhante viver,
Assim do tempo no tear ruidoso,
Vivente manto á divindade teço.