Priva-te, priva-te! eis a lenda eterna
Que aos ouvidos de todos triste sôa;
Que toda a nossa vida, com voz rouca,
Cada hora repete. Com a aurora
Horrorisado acordo; amargo pranto
Sobre o dia derramo que em seu curso
Nem um desejo poderá fartar-me,
Nem um sequer; que o pressentimento
De futuro prazer turva invejoso,
E o crear de minha activa mente
Ha-de empecer, da vida co'as miserias!
Quando á noite no leito vou lançar-me,
Novo soffrer me punge. Não me é dado
Tranquillo repousar. Sonhos tremendos,
Atterrando-me, o somno me angustiam.
A divindade que meu peito habita,
De meu ser agitar pode o mais fundo ;
Mas minhas forças todas dominando
Do mundo externo nada mover pode.
É me assim cruelissima a existencia,
A' vida um peso, a morte suspirada.
A morte poucas vezes é bemvinda.
Ditoso aquelle a quem no ardor da lide
Os louros da victoria em sangue tinge,'