Via a gente passar, em busca de guarida,
Os gatos furtivamente,
E um ou outro maltes, como sombra querida,
A seguir-nos lentamente.

De súbito, quebrando aquela intimidade
Que a luz do luar protegia,
De ti, o bandolim de estranha suavidade.
Ó guitarra da alegria,

De ti, clara e gazil como alegre fanfarra
A tocar uma alvorada,
Uma nota surdiu, lamentosa e bizarra,
Hesitante e acanhada,

Como um ser infeliz, como aleijão imundo
Da família despresado,
A quem, para o furtar aos olhares do mundo,
Houvessem emparedado!

Essa nota, anjo meu, dizia, a lamentar-se:
— Nada na terra é constante,
«E em tudo se traduz, sob qualquer disfarce,
«Um egoismo revoltante;

«Que triste condição é ser mulher formosa,
«E que trabalho banal!
«Como artista de circo, em dansa voluptuosa,
«Com um riso artificial;