Galeria dos Brasileiros Ilustres 349

ativa e empreendedora deixou sulcos profundos, que a mão do tempo dificilmente poderá apagar. Como político, como padre e como educador da mocidade soube elevar-se muito acima dos homens vulgares. O círculo de suas relações era vasto, seu nome popular não só na província do seu nascimento, como em todo o Império.

E entretanto esse homem que assim se avantajava entre os seus concidadãos, não veio ao mundo cercado dos esplendores da fortuna. A família em que nasceu não possuía nenhum desses dotes que tornam fácil aos filhos o acesso às posições elevadas.

Em um dos pontos mais remotos do norte da província de Minas Gerais, no Porto do Salgado, pequena povoação situada a um quarto de légua da margem do rio de São Francisco, viviam Antônio José Marinho e sua mulher em posição que nada tinha de brilhante. Desse humilde casal nasceu aos 7 de outubro de 1803 José Antônio Marinho, que alguns anos depois tornou conhecido e ilustre o nome de seu pai.

Sua infância passou-se sem incidente notável. Terminados os estudos primários, manifestou o mais vivo desejo de prosseguir em seus estudos e de consagrar-se ao estado eclesiástico, a mais brilhante das carreiras a que podiam aspirar nesses tempos os filhos do país, que não tinham meios de ir pedir uma educação mais completa à Universidade de Coimbra. Infelizmente o estado de pobreza em que vivia seu pai era tal, que não lhe permitia a menor esperança de levar avante seus desejos. A inteligência do pequeno Marinho desenvolvia-se porém com tanta precocidade no meio daquele sertão inculto, que seus pais e todos os amigos e vizinhos não podiam deixar de admirá-lo e de deplorar a ingratidão da sorte que não lhe permitia cultivar as belas faculdades com que a natureza o dotara.

Um fato curioso, segundo conta-se, veio dar nova direção à vida do jovem Marinho e suscitar-lhe um dedicado protetor.

Tinha-se de celebrar no Salgado, com grande pompa, a festa de um santo. Preparava-se, entre outros divertimentos, uma representação dramática, que teria lugar em um teatro improvisado. Aconteceu porém que no dia do espetáculo o ator que se havia encarregado do principal papel não pôde ou não quis desempenhá-lo. Este acontecimento, como era natural, contrariou vivamente o festeiro e todos que contavam com aquele divertimento. O jovem Marinho, vendo as dificuldades em