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GRACILIANO RAMOS

e quando um dia, de novo quebrado, elle me veio convidar para um S. João na fazenda, afrouxei mais quinhentos mil reis. Ao ver a letra, fingi desprendimento.

— Para que isso? Entre nós... Formalidades.

Mas guardei o papel.

Achei a propriedade em cacos: mato, lama e potó como os diabos. A casa grande tinha paredes cahidas, e os caminhos estavam quasi intransitaveis. Mas que terra excellente!

Á noite, emquanto a negra sambava, num forrobodó empestado, levantando poeira na sala, e a musica de zabumba e pifanos tocava o hymno nacional, Padilha andava com um lote de caboclas fazendo voltas em redor dum tacho de cangica, no pateo que os mussambês invadiam. Tirei-o desse interessante divertimento:

— Porque é que você não cultiva S. Bernardo?

— Como? perguntou Padilha esfregando os olhos por causa da fumaça e encostando-se a um mamoeiro que murchava ao calor do fogo.

— Tractores, arados, uma agricultura decente. Você nunca pensou? Quanto julga que isto rende, sendo bem aproveitado?

Luiz Padilha revelou com a mão e com o beiço ignorancia lastimavel num proprietario e, sem ligar importancia ao assumpto, voltou ás rodas interrompidas e ás caboclas. Mas de madrugada, numa carraspana terrivel, importunou-me gemen-