— Ah! Deus lhe ouça, tiazinha de meu coração, exclamou a donzela esposa, erguendo ao rosto as mãos juntas para o céu.

Nesse movimento as madeixas do cabelo castanho descaindo para as espáduas mostravam em toda a pureza natural o belo semblante de Leonor. Entre a límpida alvura coavam uns reflexos de luz rosada que anunciavam a aurora da esperançada ventura.

D. Severa lançou-lhe um olhar de castelã.

— Ai! Quem me dera outra vez aqueles bons tempos em que as damas e donzelas sabiam arrostar os perigos e davam aos senhores homens o exemplo do heroísmo? Também por isso eram mais respeitadas e queridas do que são hoje, que vivem encostadas ao canto que nem traste velho e fora de uso. Se não era outra cousa bem diferente das de agora uma fidalga, ainda mesmo do tempo de minha avó, que pelejou em Porto Calvo com D. Clara? E por sinal que atravessou dois holandeses com uma só lançada!

— Jesus!... Que mulherzinha!

— E eu sou capaz de outro tanto; o ponto é me acompanharem.

— Ui! tia não se lembre disto. Já estas cousas andaram tão baralhadas sem nós mulheres