Desse lado da casa havia um tapume tosco e em muitos pontos aberto pela gente que, para encurtar caminho, atravessava os terrenos da quinta, na direção dos Mogados. Favorecido pelos hábitos dos moradores que deixavam essa parte da habitação deserta naquelas horas, Nuno se aproximara sem despertar a atenção, e como cada tarde ia conquistando mais terreno, estava então junto ao tronco de uma pinheira que lançava os galhos para o telhado.

Lembrou-se de trepar; era uma travessura. Nisso uma voz aguda chamou do interior:

— Marta!

Correu para dentro a menina, e com pouco voltou, comendo uma cocada que a mãe lhe dera, e com a qual se preparava para fazer figa ao camarada; mas não o viu. Cansada de procurá-lo entre as árvores e despeitada da peça que lhe pregara, ia retirar-se murmurando: guerra dos mascates 171

— Deixa-te estar, marotinho!

Eis que surge-lhe pela beirada do telhado a cabeça do estouvado rapaz, trepado na pinheira, donde conseguira alcançar com a mão as travessas ou cachorros, como lhes chamam os carpinteiros. Com o susto que sofrera e o receio de que descobrissem o rapaz naquela posição, Marta acenou-lhe com a mão que descesse: