O sítio não era dos mais apropriados para a poesia. Além da sua já suspeita posição nos fundos dos quintais, vizinhava com a praia suja e coberta de cisco. Havia ali uma transfusão de cheiros terrestres e marinhos, capaz de asfixiar a mais robusta inspiração. Alguns velhos cascos de navios, que desmanchavam para lenha, ali amontoavam-se na vasa, fechando o horizonte.

São os poetas uma espécie de caramujos, ainda mais admiráveis que os outros; pois estes apenas levam consigo a casa, e aqueles nada menos do que um mundo, no qual vivem. Não se admirem pois, que apesar de tudo não estancasse a veia poética do nosso rimador. Ele tinha lá na sua cachola, de sobressalente, uma tal provisão de flores, de matizes e de perfumes, que debalde o assaltavam as impressões exteriores.

Naqueles olhos tudo eram prados; naquele olfato tudo recendia a jasmim.

Estava o sujeito muito apurado a escrever a deixa do seu quinto verso, quando desastradamente apareceram Nuno e Cosme no cotovelo que formava a praia. A areia solta, abalando os passos, permitiu que se aproximassem, antes que os pressentisse o outro.

Sempre estabanado, anunciou o caixeiro sua