por detrás de uma cara sonsa, o caixeiro prorrompeu:

— Que estão ai vocês embasbacados a olhar-me? Cuidaram que por ser filho de mascate, e dos graúdos, havia de entrar na súcia? Pois enganaram-se, digo-lhes eu. Se fosse com outra gente, nada mais natural que ajudar os seus... Regra do Mateus! Mas com a tal mascataria... Pensam lazer neste Pernambuco com os filhos o mesmo que lá na santa terrinha fizeram seus pais deles, que os empurraram para cá, no porão de um navio, com uma réstia de cebolas e um par de tamancos! Vejo cavalos que nascem da mesma besta, e uns são marchadores, outros choutões; uns levam albarda, mas outros têm arneses de veludo! Só o filho de mascate é que há de ser mascate por força! Uma figa!... Este muro falará, se me virem mais regatear!

Neste ponto de sua vigorosa alocução avistou Nuno o pacote, e travando-o com ímpeto, imprimiu-lhe tal rotação que o arremessou na praia.

— Vai-te, perseguição! Assim hei de eu fazer a todas as drogas que me caírem nas mãos, e também aos donos e vendedores das ditas!

Animou-se o poeta a introduzir uma palavra no meio daquela impetuosa loqüela: