— Podeis guardar esta certeza, senhores. Tão precioso tesouro é para mim, irmão de D. Leonor, que a nobreza de Pernambuco não tem cousa que o valha, nem eu o trocaria por todas as fidalguias do mundo. Por isso não canso de agradecer a Deus, Nosso Senhor, a ventura de ma ter concedido.

No dia marcado, e à noite, como era então o costume, celebraram-se as bodas nas casas de João Cavalcanti, com a pompa e luzimento adequados à fidalguia da noiva e riqueza do noivo.

Leonor estava deslumbrante sob os cândidos véus que lhe nublavam de tênue sombra diáfana a imagem formosa, tocada pelas vivas tintas do rubor, e lhe perfumavam a lindeza de uma graça angélica.

O nosso amigo Lisardo de Albertim, no epitalâmio que teve de recitar à mesa do banquete, na sua qualidade de poeta familiar da casa, comparou a gentil noiva com a Aurora, a deusa da luz descendo dos céus, aljofrada de orvalhos, para abrir com os clássicos dedos de rosa as portas do Oriente:

Envolta nos puros véus,
Qual Aurora prazenteira
Que meiga desce dos céus
Ao raiar da luz primeira,