RINALDO

Perfeitamente, senhor.

POLONIO

De todo não me é desconhecido, pódes acrescentar. Conheço-o pouco é verdade, comtudo aquelle de quem fallo é um dissipador com todos os seus defeitos; imputa-lhe então todos os vicios que te parecer, excepto aquelles que podem deshonrar um homem, toma conta n'isso; só as loucuras e imprudencias proprias de um joven que se sente livre de todo o constrangimento paterno.

RINALDO

O jogo, talvez?

POLONIO

Bem, e as bebidas, a esgrima, as pragas, o genio buliçoso, a convivencia do prostibulo, é até onde te auctoriso que chegues.

RINALDO

Actos são, na verdade, que não deshonram.

POLONIO

Sabes bem como te deves haver fazendo estas imputações. Não aggraves os factos accusando-o de devassidão continua e habitual; não pretendo tal; censura-o mas com discrição; exprime-te como se attribuisses as suas faltas aos defeitos inherentes á mocidade, ao abuso da liberdade, ao arrebatamento de um espirito fogoso, á effervescencia de um sangue ardente.

RINALDO

Mas, senhor?

POLONIO

Porque será conveniente obrar assim.

RINALDO

Para lh'o perguntar estava eu.

POLONIO

É onde eu queria chegar, e na minha opinião é um ardil sem igual. Depois de teres imputado a meu filho esses ligeiros defeitos, que se podem considerar quando muito como imperfeições n'uma bella obra; se o teu interlocutor, aquelle que queres sondar, notou no joven a que te referes algum dos vicios