No meio das reflexões produzidas pela disposição testamentária do conselheiro, ocorreu a Estácio a conversa que tivera com o Dr. Camargo. Provavelmente era aquele o ponto a que aludira o médico. Interrogado acerca de suas palavras, Camargo hesitou um pouco; mas insistindo o filho do conselheiro:
— Aconteceu o que eu previa, um erro, disse ele. Não houve lacuna, mas excesso. O reconhecimento dessa filha é um excesso de ternura, muito bonito, mas pouco prático. Um legado era suficiente; nada mais. A estrita justiça...
— A estrita justiça é a vontade de meu pai, redargüiu Estácio.
— Seu pai foi generoso, disse Camargo; resta saber se podia sê-lo à custa de direitos alheios.
— Os meus? Não os alego.
— Se os alegasse seria pouco digno da memória dele. O que está feito, está feito. Uma vez reconhecida, essa menina deve achar nesta casa família e afetos de família. Persuado-me de que ela saberá corresponder-lhes com verdadeira dedicação...
— Conhece-a? inquiriu Estácio, cravando no médico uns olhos impacientes de curiosidade.
— Vi-a três ou quatro vezes, disse este no fim