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em Roma nesta epocha pelos agentes dos hebreus portugueses chegou até nós. Della se vê que essa longa exposição de aggravos foi dirigida a um membro do sacro collegio assás poderoso para se obter por sua intervenção um resultado favoravel. Quem podia ser elle? A maioria dos cardeaes influentes inclinava-se visivelmente para o partido de D. João iii, e D. Miguel da Silva experimentara á propria custa, no consistorio em que o seu negocio se debatera, quão dicisivas eram já essas tendencias. Farnese achara prudente guardar silencio naquella conjunctura, mostrando-se-lhe depois, se não adverso, indiferente, nas conversações particulares com Balthasar de Faria, ao que o obrigava o negocio da pensão sobre as rendas de Alcobaça, ainda não inteiramente terminado. Porém o neto de Paulo iii não o abandonara de todo, como os factos o provam. Assim, é de crer que os agentes dos christãos-novos, de quem D. Miguel dependia, procurassem por intervenção do infeliz prelado mover o animo do cardeal-ministro, e que a este fosse dirigida aquella extensa exposição. Alexandre Farnese, vice-chanceller da igreja romana era o principal vulto politico, o personagem mais influente da curia. Podia-se dizer que