Nastácia recolhe do varal as últimas peças de roupa), sair em excursão vagabunda, montado em um morcego. E suspirava: "Ah, como serei feliz quando for livre, e a terra inteira for minha, e forem meus todos os galhos em flor para me balançar como numa rede!"
— Coitadinho! Podia vir morar conosco e balançar-se quanto quisesse na sua rede, hein, vovó?
— Como, menina, se isto foi há séculos, no tempo de Shakespeare ou antes ainda?
— Mas se ele é imortal, deve continuar existindo...
— E como saber onde anda, ou em que estará transformado hoje? Tudo no mundo evolui; nada pára. Mas, voltando à história... Próspero adora-o, e quando o ouve suspirar pela liberdade, vem com esperanças. Alega que ainda tem uns serviços a fazer e ocupa-o ora nisto ora naquilo e só depois o libertará. E certa vez em que Ariel lhe respondeu de mau modo, ameaçou-o de pinheiro por mais doze anos.
— Malvado!...
— Ariel pede perdão e Próspero se comove, dizendo: "Meu encantador Ariel!" O tempo vai passando e afinal chega o dia da libertação. Próspero lhe dá uma última incumbência e diz: "Vai, Ariel! Desempenha mais esta missão e vai reunir-te aos livres elementos, já que queres ser um deles. E sê feliz!..."
— Que beleza de fala, vovó! Estou gostando desse velho — parece até a senhora... Por que se chama esse livro "A TEMPESTADE"?
— Porque foi uma tempestade que arrojou o navio de Próspero à ilha. Linda obra. Uma peça teatral de pura fantasia, cheia de mimos que parecem musgos de árvores — coisinhas delicadas. Em certo ponto há referência aos "silfos da praia", tão leves que suas pegadas não deixam a menor marca na areia — sempre a correrem, uns a perseguirem a onda que foge, outros a fugirem da onda que avança.
— Que galanteza! Estou vendo-os fazerem isso...
— E há os anõezinhos da meia-noite, entretidos em fabricar ervas amargas que de manhã as ovelhas rejeitam. E há os