— Escute, Visconde: que é lampreia?
— Não havia o que o diabinho não soubesse! Respondeu que nem um livro:
— Lampreia é um peixe do tipo das enguias, que mais parece cobra. Tem uma boca muito especial — boca de ventosa, com a qual adere a um casco de navio, ou a um pau qualquer, e ali fica pendurada, descansando.
— Como os morcegos, então, que também descansam pendurados...
— Sim; a lampreia adere à madeira para descansar e também adere a outros peixes para sugar-lhes o sangue. É vampiresca, qual os morcegos.
— Que horror! Como adere?
— Com a ventosa da boca, e com os terríveis dentinhos fura a carne do peixe e lhe vai sugando o sangue.
— Peste! E uma casou-se com o Príncipe!
O Visconde quis saber que príncipe, mas Emília já estava longe, atrás de Narizinho. Encontrou-a adiante do guarda-comida da copa, onde tia Nastácia acabava de botar um prato de queijadinhas.
— Sabe quem se casou, Narizinho? O Príncipe!...
— Que príncipe?
— Escamado, o peste. Virou bígamo. Era casado com você e agora desposou uma lampreia, imagine! — e explicou à menina o horror que eram as tais lampreias.
Narizinho arrepiou-se toda. Tinha sido noiva do Príncipe e chegara mesmo a casar-se com ele, num casamento interrompido por um grande estrondo. Não foi um casamento completo — só meio casamento. Ainda assim considerava-se ligada ao peixinho e não podia admitir que ele "bigamasse" com outra, e logo com quem, santo Deus: com uma lampreia!
Foi correndo em busca de Pedrinho, ao qual contou tudo. Pedrinho só disse: "Temos de pescar essa bisca!"
A pesca da lampreia provocou muita discussão entre Pedrinho, Emília e o Visconde. Cada qual queria uma coisa. Emília,