UMA PEQUENA FADA
DONA BENTA e Narizinho foram à horta ver o tio Barnabé plantar mudinhas de morango numa leira muito bem estercada.
— Não estão juntas demais, José? perguntou Dona Benta, que não gostava de plantas muito juntas. O negro velho endireitou o corpo, botou as mãos na cintura e, depois de correr os olhos pelas três carreiras de mudinhas já plantadas, disse:
— A mó que não, Sinhá. Como este ano eu botei "menas" esterco, a folharada vai ser menor; por isso juntei um tiquinho mais as mudas.
Dona Benta, que sempre teve muita confiança no tio Barnabé, deixou que ele fizesse como entendia. Depois da visita à horta, ela e Narizinho foram ao pomar e sentaram-se no banco tosco que Pedrinho e o Visconde haviam feito junto ao tronco da pitangueira da Emília.
— Por onde andará aquela diabinha? — indagou Dona Benta. — De manhã passou por mim como um corisco e afundou no laboratório do Visconde. Andam tramando qualquer coisa.
Narizinho não disse nada; estava distraída, a espantar com uma palhinha um grupo de formigas ruivas que se tinham atracado a uma pobre minhoca. Sem interromper a "salvação", disse:
— Vovó: ando desconfiada de uma coisa...
— De que, minha filha?
— Ando cismando que Emília é uma fada que veio a este mundo sob forma de boneca e depois virou gente. Tudo em Emilia são disfarces — até a vara de condão de todas as fadas.
— Não estou entendendo, minha filha — disse Dona Benta erguendo os óculos para a testa.