A REINAÇÃO ATÔMICA
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no mundo uma mulher calva que tivesse a coragem de exibir em público a sua careca, como faz o Doutor Osmundo, que até parece ter gosto em mostrar o seu formidável queijo do reino.

— É mesmo, vovó. Ele tira do bolso o lenço e passa-o naquela calva lustrosa e cor-de-rosa, como tia Nastácia passa um pano na vidraça. Mas se Emília ficar totalmente careca, que gracinha, hein, vovó?

— Eu terei de lhe arranjar uma cabeleira, ou chinó, como se dizia no meu tempo. Mas donde virá essa queda de cabelo da Emília? Não é coisa natural. Com certeza alguma reinação lá no laboratório do Visconde, com aquelas drogas.

Nesse momento tia Nastácia apareceu para levar as vagens já peladas e ninguém mais falou dos cabelos da Emília. Mas Dona Benta ficou parafusando no caso, e logo depois foi ter ao laboratório do Visconde, que estava entretido na fabricação do pó de pirlimpimpim.

— Escute, Visconde, Emília, segundo diz Narizinho, anda a perder os cabelos, o que não é natural. Desconfio que é arte de alguma droga aqui deste seu laboratório. Que acha?

O sabuguinho científico segurou o queixo, franziu a testa e pensou. Depois disse:

— Não sei de droga nenhuma aqui com o poder de afetar os cabelos humanos, mas ando desconfiado de uma coisa ...

— Que coisa?

— Não posso dizer ainda. Tenho de concluir uma investigação que estou fazendo. Há dias dei balanço em meu estoque de Pim e Superpim (era como o Visconde chamava o pó de pirlimpimpim e o Superpó que ele havia inventado) e notei a falta de duas pitadas. Quer dizer que alguém entrou aqui e as furtou. Para quê? Para usá-las, evidentemente. Donde concluo que alguém desta casa utilizou o Pim para alguma aventura, sem que os outros soubessem. Ora, que alguém era capaz de fazer isso senão a Emília?

— Muito bem deduzido, Visconde — aprovou Dona Benta. — Creio igualmente que só aquela diabinha poderia ter a coragem de usar o pó escondido de nós.