Recorrendo à memória, o Visconde lembrou-se de que fora exatamente três meses atrás que havia pilhado Emília saindo de seu laboratório com qualquer coisa na mão — um embrulhinho de papel. Naquela ocasião não dera nenhuma importância ao caso, mas agora estava dando. E já com uma idéia na cabeça, preparou um golpe que a "caçasse". Puxou o assunto das bombas atômicas e disse:
— Para mim, a explosão da bomba atômica em Biquíni foi um fracasso. Fez muito menos estragos do que a lançada sobre Hiroshima.
— Com que base diz isso, Visconde? — perguntou Emília.
— No que tenho lido e visto nas fotografias.
— Pois penso o contrário. Acho que em Biquíni o arrasamento foi completo; só que como não havia cidade ali, a destruição foi menos espetacular.
O Visconde piscou lá por dentro e disse:
— Eu queria muito saber como ficaram os troncos das palmeiras com o choque da explosão. As fotografias, muito reduzidas, não me permitem fazer uma idéia.
Emília distraiu-se e:
— Ficaram esfiapadas, assim como aquela ripa que naquele dia o Guiné Carapina quebrou no joelho e jogou ali fora, e Narizinho caiu em cima e arranhou-se toda no joelho.
O Visconde encarou-a com ar firme.
— Emília, Emília! Como é que sabe disso? Como é que sabe com tanta precisão como ficaram as palmeiras da ilha de Biquíni depois da explosão da bomba atômica?
Emília caiu em si e atrapalhou-se. Mesmo assim respondeu com a sua habitual esperteza:
— Sei por adivinhação, ou por dedução, como dizem vocês sábios.
Mas o sabuguinho não se deixou embrulhar.
— Adivinhação uma ova! Sabe porque esteve lá!
Pegada de surpresa, a ex-boneca vacilou. A afirmação do Visconde era das mais categóricas, e ele insistiu: