— Tudo é possível. Só experimentando.
— Pois vou experimentar — resolveu Emília. — Vou ver se Flora me cede um lote aí de meia dúzia. Ela vai receber-nos em seu palácio hoje à tarde. Assim que houver um jeitinho, eu proponho o negócio.
— Que negócio?
— A troca de seis ninfas por qualquer coisa.
— Que coisa? — quis saber o Visconde, já meio desconfiado que a "qualquer coisa" fosse ele, como acontecera lá no Oráculo de Delfos.[1]
— Não sei ainda. Na hora verei.
À tarde houve a recepção e Emília soube responder muito bem às perguntas da deusa.
— Quem é a rainha lá do reino de vocês? — quis saber a deusa, e Emília, com todo o serelepismo: "Sua Majestade Dona Benta I", e foi contando mil coisas do "Reino" do Picapau Amarelo, metade verdade, metade invenção.
— E quem é este senhor tão sério que a acompanha? — indagou a deusa, dando um piparote na cartola do Visconde.
— É um velho carregador da minha canastrinha. E um grande sábio também. Não há o que ele não saiba — até logaritmos.
A deusa Flora ignorava o que fossem logaritmos e quis saber, mas Emília (que também não sabia) embrulhou-a, fazendo uma tal mistura com mangaritos, que deixou a deusa atrapalhada. Em seguida propôs o negócio da compra de seis ninfas.
Flora surpreendeu-se. Pela primeira vez propunham-lhe um negócio daquela ordem. Compra de seis ninfas? Era boa...
— E com que moeda me paga esse lote de ninfas? — perguntou — e com muita surpresa viu Emília piscar e com um movimento de lábios indicar o Visconde. Seria possível que ela usasse o seu carregador de canastra como moeda?
Só naquele momento Flora prestou atenção no Visconde. Botou-o no colo, examinou-o: Fê-lo falar e por fim disse: "É o mais maravilhoso boneco de engonço que ainda vi. Quem o fez?"
- ↑ O Minotauro.