TIA NASTÁCIA — Onde andam!... Por esses mundos a fora,
Sinhá, fazendo quanta estripulia há. Aqueles diabretes são
"capaz" de tudo, Sinhá. Depois que deram comigo na Lua,
e me deixaram lá cozinhando para São Jorge e com aquele
horrivel dragão que me espiava e lambia os beiços com a
lingua de ponta de flecha, eu não acho nada impossível.
Credo! Só de me lembrar disso sinto ainda um arrepio no
corpo...[1]
DONA BENTA — A Emilia foi também?
TIA NASTÁCIA — Se foi! A Emília está virando a Lampeãozinha
do bando, depois que se apanhou dona daquele boi dum
chifre só na testa, o tal ri... ri...
DONA BENTA — Rinoceronte.
TIA NASTÁCIA — Se foi! A Emilia está virando a Lampiãozinha
intima do tal "rinoceronte", está que está uma rainha, de
tão mandona. Diz cada desaforo para mim, Sinhá que só
vendo. Me destrata de "anarfabeta" è "inguinorante" para
baixo, a pestinha, como se não fosse eu que fizesse ela.
DONA BENTA — Que a fizesse, Nastácia. Olhe a gramática.
TIA NASTÁCIA — (suspirando) — Inda mais essa agora, a tal gra-
mática, como se não fosse pouca a minha trabalheira na
cozinha, com o raio do ri... "rinoceronte" no quintal me
espiando o tempo inteiro, tal qual o dragão. Eu é porque...
DONA BENTA — Espere: Que horas são?
TIA NASTÁCIA — (Que tinha vista curta, trepa a uma cadeira para
ver as horas no relógio de parede.) — Quatro e meia, quase
horas de jantar. Sinhá não se assuste, que a cambadinha
não tarda ai. Garanto. Quando a fome aperta, vêm todos
ventando, nem que seja da Lua. Nesses países encantados
onde costumam passear — ou aventurar, como eles dizem
— parece que há de tudo — fadas, príncipes que viram ursos,
castelos de ouro e marfim, tudo, menos comida.
DONA BENTA — E que está fazendo para o jantar?
- ↑ Viagem ao Céu.