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entretanto de outros gêneros, é ele cronologicamente o primeiro que por virtudes de ideação e dons de expressão mereça plenamente o nome de escritor.

José Martiniano de Alencar, nascido no Ceará em 1 de maio de 1829 e falecido no Rio de Janeiro em 13 de dezembro de 1877, vinha de uma família antiga e notável pela comparticipação que naquela Província, seu berço, tivera nos movimentos da Independência, por amor da qual alguns dos seus sofreram perseguições, punições e até morte. Seu pai, o padre José Martiniano de Alencar, participou na Revolta Pernambucana de 1817, foi deputado às Cortes portuguesas e nelas se distinguiu pelo calor com que combateu pelo Brasil contra o pensamento português da sua recolonização. Ao diante membro da Constituinte brasileira, foi um dos deportados por motivos políticos. Havia, pois, no filho, o escritor, uma herança de revolta, de independência de Portugal e até de má vontade ao português. Ele também foi político, deputado da sua terra, ministro e conselheiro de Estado, figura conspícua num partido, o conservador. Pela natureza aristocrática do seu temperamento e do seu espírito, por tradição de família, que, a despeito dos seus antecendentes revolucionários, era, de partido, conservadora, foi José de Alencar, revolucionário em letras, conservador em política. Num país novo como o Brasil, onde nenhuma tradição existia, e todos os instintos políticos eram de ontem e de empréstimo, nada de importante havia a conservar. As diferentes alcunhas dos partidos apenas cobriam e disfarçavam sentimentos, interesses ou até paixões pessoais ou de grupos, sem alguma correspondência efetiva com princípios necessários e definidos. Como era um nervoso, um pessoal, esquivo à popularidade que, contradição muito humana, acaso no íntimo ambicionava, chegava às vezes, quiçá por influência literária dos escritores políticos ingleses, ao exagero do seu conservantismo. Assim foi adversário da emancipação dos escravos quando já não o era nenhum intelectual brasileiro. Político conservador, mostrou-se todavia indócil à disciplina partidária,