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necessidade sentimental. A desventura, o sofrimento, aumentou-lhe, porém, a tristeza dos da sua geração e exacerbou-lhe a sensibilidade, e como àqueles criou-lhe a angústia da morte, que atormentava o poeta da Lira dos vinte anos, afligia a Junqueira Freire, a Casimiro de Abreu e a outros da mesma família literária. Do Rio Grande do Sul, aonde o levara o seu emprego de médico do exército, escrevia nos formosos tercetos endereçados ao seu amigo Paula Brito, o bondoso e ingênuo mecenas, tão mesquinho como os poetas que patrocinava:

Tenho n'alma um cruel pressentimento (Talvez não mui remota profecia Que não posso apagar do pensamento!) Espero cedo o meu extremo dia E a morte, da pátria tão distante, É quadro que me abate de agonia!

Das humilhações que ao seu talento e brio impunha a sua mofina condição, defendia-se com o orgulho com que se lhe fingia indiferente, mas que às vezes lhe irrompiam ou em gestos desabridos ou em gritos poéticos verdadeiramente dolorosos e comoventes, porque vindos d'alma. Tais são: Meu segredo, Minha vida, A linguagem dos tristes, Não posso mais, Último canto do cisne:

Eu me finjo ante vós, porque venero O sublime das lágrimas; conheço-as São modestas vestais, vivem no ermo Aborrecem festins [...] [...] Bem fechadas no claustro de meus olhos Dentro em meu coração hei de contê-las Guardá-las bem de vós, contentes, hei de Porque a dor me não traia neste empenho Zelosa e vigilante sentinela Em meus lábios trazer constante um riso.

Pungia-o esse tão comum mal secreto, de que um dos nossos poetas devia, duas gerações depois, dizer num soneto