de ambos os nomes, chamamos a esta narração historia e Historia do Futuro.
Sós e solitariamente entramos nella (mais ainda que Noé no meio do diluvio) sem companheiro nem guia, sem estrella, nem pharol, sem exemplar, nem exemplo: o mar é immenso, as ondas confusas, as nuvens espessas, a noite escurissima: mas esperamos no Pae dos lumes (a cuja gloria e de seu Filho servimos), tirará a salvamento a fragil barquinha: ella com maior ventura que Argos, e nós com maior ousadia que Tiphys. Antes de abrir as velas ao vento (oh faça Deus que não seja tempestade !) em logar da benevolencia que se costuma pedir aos leitores, só lhes quero pedir justiça. É de direito natural que ninguem seja condemnado, sem ser ouvido; isto só deseja e pede a todos a nova Historia do Futuro, com palavras não suas, mas de S. Jeronymo : Legant prius, et postea despiciant. Lêam primeiro, e depois condemnem, assim dizia aquelle grande mestre da egreja, defendendo a sua versão dos sagrados livros, então perseguida e impugnada, hoje adorada e de fé.
No capitulo passado fallámos com todo o mundo; neste só com Portugal: naquelle promettemos grandes futuros ao desejo; neste asseguramos breves desejos ao futuro: nem todos os futuros são para desejar, porque ha muitos futuros para temer. Ámanhã serás commigo, disse Samuel a Saul, o propheta ao rei, o morto ao vivo. (1. Reg. XXVII-19) Ob que temeroso futuro! Caiu Saul desmaiado, e fora melhor cair em si, que aos pés do propheta: mas era já a vespera do dia da morte; e quem busca o desengano tarde, não se desengana. Outros reis houve, que por não temer os futuros, quizeram antes ignoral-os.