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com um chuveiro de obséquios e galanteios impertinentes, a que a moça respondia com uma frieza e mesmo com um ar de displicência, que em vão se esfor­çava por dissimular. Só a nímia simplicidade de Roberto pode­ria não perceber quanto ela se achava constrangida e con­trariada. É que no coração da infeliz dava-se então uma terrível luta, e começava a sentir, quanto era pesado o sacri­fício, a que por condescender com seu pai se havia sujeitado.

À tardinha Paulina, a despeito da advertência ou do pedido de seu pai, foi, como tinha de costume, sentar-se debaixo dos ramos da grande gameleira do curral, sobre a mesa do carro. Como para disfarçar o motivo, que ali sempre a condu­zia, levava um livro, que às vezes abria, mas nunca lia; a infeliz tinha muito que ler no livro negro de seu coração. Aquele lugar tinha para a alma de Paulina um doloroso encanto; ela o visitava como a mãe, que volta de contínuo ao túmulo do filho querido que perdeu, ou como a rola, que pousa arrulando gemidos de saudade sobre os destroços do ninho, donde o gavião arrancou-lhes os tenros filhotes.

Estava-se no mês de agosto; o sabiá cantava tristemente; abafado entre vapores, o sol sem raios pendia vermelho e abraseado sobre os últimos espigões, cujas formas envoltas em um véu fumacento se iam