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no braço, e agitando-a; – era debalde; a infeliz não podia ouvi-lo. Pendurada no braço paterno a fronte branca pendia-lhe para trás como lírio esgalhado, o corpo alquebrava-se lânguido e inerte, e as pálpebras transparentes e cerradas eram como lâmpadas de alabastro, onde a luz acabara de extinguir-se. Estava profunda­mente desmaiada.

– A cavalo já, Roberto! a cavalo e depressa! – gritou o velho. Pegue no melhor animal que aí houver, corra já a Uberaba e traga-nos um médico.

Roberto, que em outra qualquer ocasião teria afrontado fadigas, coriscos e raios, e teria ido ao inferno para servir a Paulina, desta vez, apesar da gravidade do caso, hesitou e prestou-se de mau humor. Seus antigos ciúmes renasciam, e sus­peitas cruéis lhe atravessavam o espírito, suspeitas que para outro qualquer mais perspicaz há muito teriam tomado o cará­ter de certeza. Não seria aquele maldito hóspede a causa dos sofrimentos de sua prima, e do vágado de que acabava de ser vítima?...

– Nesse caso ele que vá! – pensava ele. Quem as armou que as desarme. No estado de irritação, de que se achava pos­suído contra o recém-chegado, esteve a ponto de dizer estou­vadamente: – Aqui o sr. Eduardo, que acaba de chegar e ainda está com o animal selado, bem nos pode fazer esse favor. Mas o amor,