E à noite uma lanterna se acendia para alumiar o lúgubre espetáculo.
Havia dois ou três anos que este sinistro padrão da mais brutal e feroz tirania existia ali hasteado.
E por que razão esse cuidado em conservar ali tão guardado, tão vigiado, aquele triste e miserando resto de uma vítima há tanto tempo sacrificada?...
Para que aquela sentinela ali postada constantemente dia e noite?...
Temiam acaso que aquele crânio oco e ressequido onde há tanto tempo se extinguira a vida e o pensamento, de novo se reanimasse, e reunindo-se ao tronco esquartejado e esparso, desse outra vez o sinal da revolta ao povo oprimido?...
Ou receavam que esse crânio, hasteado na ponta do estandarte da emancipação, fosse o sinal certo da queda dos tiranos e do triunfo da liberdade, como esse célebre tambor que os soldados húngaros fizeram da pele de seu bravo chefe Ziska, morto no campo da batalha, tambor que quando rufava à frente deles, era seguro prenúncio da vitória?
Pobre Tiradentes!... ainda que não fosse tão nobre e santa a causa por que te imolaste, a morte afrontosa que sofreste, e a crueldade, direi asquerosa, com que profanaram teus miserandos restos, eram