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era também uma flor nova das selvas, que apenas abria o cálix às virações do deserto; uma linda caboclinha de treze a catorze anos, mas de tez um pouco mais clara do que a das suas companheiras da floresta. Era no veranico de janeiro; o rio estava baixo, e na larga zona de areia, que mediava entre ele e a floresta que o bordeja, viam-se dispersos alguns bugres de ambos os sexos, uns pescando ou banhando-se, outros dormindo ou comendo. O sol ardentíssimo do meio-dia reverberava no seio do rio e nas areias da praia, a ponto de ofuscar as vistas; estava um calor insuportável.

Pouco abaixo daquele grupo via-se um indígena de for­mas truculentas e vigorosas cortando as águas em todas as direções, ora nadando com rapidez, ora boiando à flor do rio, ora sumindo-se de mergulho na profundez dos rebojos, e era preciso olhar com muita atenção para ver que tinha em uma das mãos uma delgada linha. Ninguém diria que ele estava pescando. O índio pesca à linha os grandes peixes, quase como quem persegue um veado ou uma anta através de campos e florestas. Com um pequeno anzol ou fisga, e uma linha de tucum [1] da grossura de

  1. Espécie de pequena palmeira, de cujas espatos os índios fabricam cordas fortíssimas.