Viram-no abrir com ar de religioso respeito a portinhola de um nicho ou de um armário praticado na parede, tirar dele um crânio humano branco e mirrado, depô-lo silenciosamente sobre uma mesa colocada em frente a um oratório, e ajoelhando-se depois com os braços encostados sobre a mesa, assim ficar por largo tempo, em atitude de profunda meditação, ou no êxtase de uma oração.
Mas esta descoberta, como bem se pode ver, em nada veio dissipar o mistério que pairava sobre a vida do velho. Pelo contrário vinha ainda rodeá-la de mais um sinistro prestígio, e em vez de acalmar a curiosidade do povo, concorreu para mais excitá-la.
Que crânio seria esse, que o velho guardava, e parecia venerar com religioso acatamento?
Seria relíquia de algum ente amado?
Seria o velho algum assassino, que em expiação de seu crime queria ter sempre diante de si o crânio da sua vítima para lacerar continuamente a consciência com o cilício do remorso?...
Seria algum cenobita imitador de S. Jerônimo, que tinha sempre diante de seus olhos uma caveira humana a fim de conservar de contínuo presente ao espírito o nada da existência?
A maior parte do povo porém ficou tendo o pobre